O JOVEM PODE MUDAR O MUNDO?

Nos meus idos tempos de juventude, eu tinha certeza que podia mudar o mundo! E continuo tendo…
Meu primeiro emprego foi de vendedor de bebidas na Casa do Whisky, em 1980, em Belo Horizonte. Ah… como eu tinha ideias. Por quantas vezes tentei falar com o dono, Senhor William, para dar sugestões, tecer críticas. Eu era um sonhador! Mas ele sempre estava ocupado, não podia me atender. Para chegar até a sala dele, não era fácil. Homem rico e poderoso! Muito alto, deveria ter quase uns 2 m! Às vezes o via pelos corredores. Dono de uma voz poderosa e autoritária, um rosto marcado por fulcros de espinhas, dentes grandes e separados. Deveria ter uns 40 anos! Ele nos cumprimentava, mas, se ousássemos falar mais que um bom dia, ele mandava que o procurássemos depois.
Um dia eu consegui! Fiz amizade com a secretária dele e ela conseguiu convencê-lo a me receber. Entrei cheio de mim, com ousadia que sempre me foi peculiar. Ele foi cortês, pediu que eu sentasse e ficou ao telefone conversando, muito alto, rindo espalhafatosamente, com alguém fora do país. Falava um inglês sofrível. Quando ele terminou a conversa, perguntei se ele precisava de ajuda com o inglês. Ele me encarou com incredibilidade. Como poderia um empregado reles ser tão ousado? Acho que foi meu erro… Ele sorriu com grosseria, mandou que eu falasse e, antes de um minuto, interrompeu a “conversa”, mandou que eu me retirasse e que falaria comigo depois. Estou esperando até hoje…
Em 1983, depois de uns 6 meses desempregado, consegui um emprego de “Bell boy” no hotel Plaza em Belo Horizonte. Bell boy é o carregador de malas do hotel, menino de recados dos hóspedes e dos demais funcionários. Eu tinha que “rebolar” para aguentar as humilhações. Havia certas compensações, principalmente as gorjetas! Cursava Letras na UFMG. Lá, também, decidi falar com o dono, Sr. Ferdinando. Ele me recebeu, no apartamento dele, pelado, deitado numa cama de casal, apenas com uma almofada cobrindo as partes. Ele era gordo, cabelos brancos, fala grossa e estridente, cara fechada. Do banheiro, saiu a jovem, bela e jovem mulher dele, envolta numa toalha. Encarou-me, deu um sorriso e saiu para outro cômodo. Fiquei sem ação e constrangido. Que situação! Aquilo era jeito de receber alguém? Ainda mais um empregado do mais baixo escalão do hotel?
Ele nem me mandou sentar. Apenas disse: “pode falar”! Falei sobre mim, que falava um pouco de inglês, que fazia faculdade, dei umas ideias para melhorar o atendimento na recepção, dentre outras coisas. Ele ouviu e falou: “Vá com a Mara! (a gerente) O senhor vai para a recepção! Depois quero falar com o senhor no meu escritório!
Trabalhei lá por seis meses! Dois de Bell boy e quatro como recepcionista. Um dia, no intuito de ajudá-lo, neguei uma gravidade numa suíte para um amigo da gerente e me demitiram!
De lá fui para o hotel Othon, depois para o Hilton e, por fim, em 1988, para Carajás.
Comecei a perceber que era mais inteligente de minha parte ouvir e obedecer que falar e propor novas formas de trabalho. Os chefes acima de mim não gostavam de gente abelhuda. Uma vez, propus uma mudança na forma de elaborar arquivos, mas o fiz só para o gerente. Ele usou minha proposta como se dele fosse, foi elogiado pela diretoria e eleito como funcionário padrão naquele ano!
Nos anos 2000, as empresas, embaladas pela criatividade dos jovens do Vale do Silício, até que tentaram dar chances para que os mais novos alcançassem postos de direção com mais rapidez. Parece não ter funcionado. O que se vê, hoje, são empresas buscando pessoas com experiência, maduras e, por vezes, acima dos 60 anos para gerirem seus negócios. Eu mesmo fiz isto quando fui gestor de Recursos Humanos da prefeitura de Parauapebas. Deixei de contratar jovens recém saídos de faculdades de nutrição, educação física, administração, para contratar profissionais experientes, maduros!
Eis a grande questão: contratar jovens inexperientes e cheios de ideias, de gás, de força, de coragem, de beleza; arriscar com eles, ou contratar os profissionais maduros, que já experimentaram vitórias e derrotas, que sabem onde pisam, que são cautelosos, seguros, comedidos?
O certo deveria ser aliar os dois. No entanto, o mercado nos mostra outra coisa. Mostra-nos jovens ansiosos atrás de emprego, mas barrados por não terem experiência. Como tê-la sem trabalhar?
Mesmo que eu me veja, no passado, jovem, sonhador e com muita vontade de trabalhar, hoje, pensaria como meus antigos chefes se me fosse dada a oportunidade de contratar a garotada para cargos de chefia! Mas, saberia como aproveitá-los!
É até contraditório, chega a ser paradoxal, pois acredito no potencial da juventude de hoje. Acredito que nossos jovens ainda não foram contaminados pela corrupção, pela indiferença, pelo egoísmo, pela ganância daqueles que estão por aí, gerindo nosso país, nossas empresas! São eles, nossos jovens, que irão combater as mazelas que destroem nossa sociedade.
Como professor, convivo com eles, sei o que eles pensam. Eles vivem de forma eloquente, como se a vida fosse acabar agora, vivem o momento! Mas, quando são chamados a fazer algo sério, o fazem com maestria. Um pouco de orientação ajuda, afinal, eles ainda não passaram pelo que nós, maduros e velhos passamos!
Todavia, não seria egoísmo de nossa parte tirar deles estes momentos de alegria, de furor, de “curtição” da vida, de “carpe diem”, repassando-lhes responsabilidades prematuramente?
Vocês têm a força, a juventude, a beleza, o glamour, meus jovens!
O que vocês têm a dizer?

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