O QUE VI NO CÍRIO DE NAZARÉ!

Uma vez, em 1993, estive em Belém e, por coincidência, na época do Círio. Não dei muita bola para o evento. Da janela do hotel, vi a procissão passar…
Desta vez, fui a Belém, especificamente, para ver o Círio. E o que vi foi muito bonito! Mudou meu pensamento a respeito da festa. Lembro-me de, uma vez, quando meu amigo Manoel Jorge de Lima Ataíde ter dito que o Círio era muito lindo, eu ter sido áspero com ele. Perguntei-lhe que beleza haveria numa multidão suada e cansada sair atrás da imagem de uma santa segurando numa corda! Mas o Círio não é isto!
As pessoas têm fé! A fé é em Deus, em Cristo e na virgem Maria! Milhões de romeiros se deslocam de grandes distâncias para visitar Aparecida do Norte, Belém do Pará, Juazeiro do Norte. Para quê? Para pagar promessas? Eles viajam porque têm fé! É algo inexplicável. Não são as imagens da padroeira do Brasil ou do Círio de Nazaré que atraem as pessoas. É a fé em algo invisível, mas sentido. Só Aparecida do Norte, em São Paulo, recebeu 12 milhões de turistas religiosos em 2014. O Círio de Nazaré reúne mais de 2 milhões de pessoas só no dia da transladação da imagem da Santa. Maior número vão às festividades de Padre Cícero em Juazeiro do Norte!!
Há que se respeitar e aceitar a fé e crença de todos. Quem critica os católicos por “adorar” imagens, não sabe o que diz. A imagem é apenas a ponte entre o cristão e Deus! O mesmo acontece quando o vinho é bebido nos rituais religiosos, ou quando a hóstia e o pão são repartidos!
Saímos do hotel (foi muito difícil achar vaga nos hotéis em Belém) às 03:55 da manhã. Às 04:15 h estávamos nas docas, rumo à santa Sé. As ruas estavam interditadas para carros e motos, mas já estavam lotadas de fiéis! Caminhamos por uns 20 minutos entre centenas de barracas com comidas e lembranças do Círio. Em frente à Estação das Docas, na Av. Presidente Vargas, vi os primeiros pagadores de promessas. Com os joelhos enfaixados, se arrastavam sobre folhas de papelão no asfalto. As folhas de papelão eram removidas da parte de trás para frente num constante movimento. Os semblantes dos pagadores de promessas eram de dor, sofrimento e prazer! Perguntei a um deles da promessa. Ele disse que o pai sofrera um acidente e os médicos iriam amputar-lhe uma perna. Ele fez promessa para a Santa que se o pai não perdesse a perna, faria o percurso da transladação de joelhos. O pai, para espanto dos médicos, não precisou amputar a perna, no entanto, morreu num outro acidente 6 meses depois. Mas promessa é dívida!
Continuamos em direção à igreja da Sé! Milhares de pessoas pelas ruas, no mesmo caminho! Muitos estavam sentados nos locais onde seria estendida a corda que puxaria o carro com a imagem da Santa desde o dia anterior. Muita cantoria, muita alegria, muita paz! As recomendações para que guardássemos celulares e carteiras dentro das roupas, foram desnecessárias. Tirei várias fotos, vi muitas pessoas fazendo o mesmo. Nenhum grito de “pega ladrão”, nenhuma perturbação da ordem. A paz reinava. Havia muitos policiais e soldados do exército cercando as ruas por onde se estenderia a corda.
Chegamos ao pátio da igreja. A missa já havia começado. Muita gente! Milhares! Conseguimos ficar bem próximos do altar. O som baixo não nos permitia ouvir claramente. O palco onde estavam os padres e bispos era baixo. Não dava para vê-los. Apesar da larga experiência em organizar o Círio, creio que ainda não aprenderam a fazê-lo de modo a propiciar conforto e bem estar aos romeiros.
Os semblantes eram vários. Muitos tinham os olhos fechados, seguravam o peito com fé e determinação. Outros aplaudiam, outros cantavam. Muitos sentados, fatigados pela noite em claro. Vendedores de água e alimentos circulavam com dificuldade entre os fiéis que se mantinham firmes e concentrados nas palavras dos celebrantes da missa! Notamos que alguns levavam o livro dos estudantes e concurseiros da área de direito na cabeça (Vade Mecum), como se pedissem a bênção para serem aprovados! Não havia desespero nem ingratidão nas pessoas. Havia paciência, paz e amor. Havia fé e esperança. Não era a imagem da Santa que os atraía. Era a gratidão, a crença num futuro melhor e mais justo. Era o amor ao próximo! As pessoas estavam cheias de luz!
A missa terminou. A imagem da Santa iniciou sua jornada. As pessoas acenavam e agradeciam a Deus e à Virgem Maria pelas graças alcançadas. Muitos choravam! Muitos clamavam por dias melhores!
Quem tinha sede e não tinha dinheiro, encontrava quem lhe desse água. Quem tinha fome e não podia comprar comida nas barracas, achava quem lhe desse alimento. Havia centenas de pessoas distribuindo água e lanches. Eram voluntários. Que estivessem ou não pagando promessas, não importa! Não havia tumulto, não havia medo! Nossos pés, mesmo que doloridos, continuavam a caminhada. Não seguimos a imagem da santa. Fomos em direção à praça da república para atravessá-la e pegar um táxi para irmos para o hotel que ficava perto do aeroporto. Estávamos bem, estávamos em paz, felizes, contagiados pela luz que imanava das pessoas.
Não sei dizer se havia dois milhões de pessoas nas ruas! Sei que era muita gente, como há muito tempo, desde o tempo das “diretas já”, não tinha visto mais!
O que nos levou lá? A gratidão por termos conquistado uma vida melhor e a fé por dias melhores ainda. Não idolatramos a imagem, mas se alguém o fizer, respeitamos!
Viemos embora no domingo mesmo. Passamos a noite em claro, mas passamos o dia em paz, com saúde e de bem com a vida!
O nosso Mestre nos ensina a viver com luz, paz e amor!

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