Polícia Civil prende mandante e caça assassinos de líder rural e de mais cinco trabalhadores

Foram necessários apenas quatro dias para que a Polícia Civil do Pará esclarecesse as circunstâncias em que se deram duas chacinas no município de Baião. Ao todo, seis pessoas foram assassinadas em menos de 48 horas, entre a sexta-feira (22) e o domingo (24), na região sudeste do Pará. Uma das vítimas foi a líder campesina Dilma Ferreira da Silva. O mandante dos crimes, Fernando Ferreira Rosa Filho, o “Fernandinho”, foi preso nesta terça-feira (26) pela força-tarefa comandada pelo delegado-geral Alberto Teixeira. Os executores já foram identificados e estão sendo caçados pelas equipes de policiais civis com o apoio da Polícia Militar, na região. Na foto acima, dois dos quatro assassinos que cometeram as chacinas.

“Fernandinho”, fazendeiro residente no município de Novo Repartimento, é o dono da fazenda na qual uma das chacinas aconteceu, distante cerca de 14 km do local onde Dilma Ferreira, seu companheiro e um amigo do casal foram assassinados. Os executores, contratados diretamente por “Fernandinho”, são os irmãos Marlon Alves, Cosme Francisco Alves, Alan Alves e Glaucimar Francisco Alves.

                           Tortura e Morte no “Salvador Allende”

Na primeira chacina, ocorrida na madrugada de sexta-feira (22), três pessoas foram assassinadas, entre elas Dilma Ferreira da Silva, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Foram assassinados também Claudionor Amaro Costa da Silva, 42 anos, maranhense radicado no Pará e Hilton Lopes, 38 anos, nascido em Baião. Eles estavam no Projeto de Assentamento Salvador Allende, distante cerca de 60 km do centro de Tucuruí.

Na casa onde os corpos foram encontrados também funcionava um pequeno comércio e estava completamente depredada. Dilma foi encontrada morta em sua cama, enquanto as outras duas vítimas estavam em frente ao comércio. Segundo as primeiras observações dos peritos, Dilma foi degolada e havia sinais de tortura nos três corpos.

A polícia já apurou que pelo menos quatro homens, em três motos, chegaram ao comércio de Dilma, no final da noite de quinta-feira (21). A partir daí foi ligado um aparelho de som. A música bastante alta chamou a atenção de alguns vizinhos, por não ser comum o casal dar festas durante a madrugada.

Mesmo achando estranho, nenhum vizinho foi ao local durante a madrugada.

Os corpos somente foram encontrados na manhã de sexta-feira (22), quando o transporte escolar passou. Dilma era monitora na escola que atende ao assentamento e costumava ser levada de ônibus até lá. A casa estava revirada e os três corpos foram encontrados amarrados, amordaçados e, ao que tudo indica, mortos a golpes de arma branca.

Aparentemente, ela foi torturada e depois teve a garganta cortada. Ainda não se sabe a motivação do crime, pois, embora o histórico de ameaças na região seja considerável, não havia notícias de que Dilma estivesse sendo ameaçada.

Os corpos de Dilma, Claudionor e Hilton foram liberados pelo Instituto Médico Legal na sexta-feira às 22h. O corpo de Dilma foi trasladado para o Maranhão. O velório e sepultamento ocorreu no final da tarde de sábado (23), em Monte Castelo (MA), cidade de origem da família.

                                Corpos Queimados Na Fazenda

A segunda chacina em Baião aconteceu, provavelmente, na noite de sábado (23) ou na madrugada de domingo (24). A polícia ainda não conseguiu precisar o horário do crime. Sabe-se que, na manhã de domingo, três corpos carbonizados foram encontrados em uma fazenda, nas imediações da vicinal da Martins, zona rural de Baião, a 80 km de Tucuruí.

Os corpos eram de Marlete da Silva Oliveira e de Raimundo de Jesus Ferreira, casal que trabalhava como caseiros na fazenda e de Venilson da Silva Santos, tratorista que prestava serviços no local.

A Delegacia Especializada em Conflitos Agrários (DECA), que já estava na área desde sexta-feira, assumiu a investigação deste outro triplo homicídio.

A fazenda onde os corpos carbonizados foram encontrados pertence a Fernando Ferreira, na chamada Vicinal da Martins, distante cerca de 14 km do “Salvador Allende”.

                                     Polícia Civil Monta Força-Tarefa

Por ordem do governador Helder Barbalho, foi montada uma Força-Tarefa da Polícia Civil, sob comando do delegado-geral Alberto Teixeira, formada por policiais civis do Gabinete do Delegado Geral, do Núcleo de Inteligência Policial (NIP), Diretoria de Polícia do Interior (DPI), Divisão de Homicídios (DH), Grupo de Pronto-Emprego(GPE), policiais civis da Superintendência Regional de Tucuruí e do Núcleo de Apoio à Investigação (NAI), de Tucuruí, além da própria Delegacia Especializada em Conflitos Agrários (DECA), que já havia iniciado as investigações.

Segundo o delegado-geral Alberto Teixeira, a partir das informações coletadas nos boletins de ocorrência registrados e com a chegada da força-tarefa, foram reunidas evidências e ouvidas testemunhas. Com isso foi possível precisar que “Fernandinho”, por ter diversas atividades ilícitas, resolveu livrar-se da vizinhança incômoda e de seus funcionários insatisfeitos.

Não interessava para o mandante ter por perto os líderes rurais. Por outro lado, há evidências no sentido de que os três funcionários de “Fernandinho” planejavam recorrer à Justiça do Trabalho para fazer seus direitos.

Para alcançar seu objetivo, “Fernandinho” contratou os quatro irmãos Alves e deu-lhes a incumbência de matar as seis vítimas.

A Polícia Civil já apurou com certeza que “Fernandinho”, além de praticar a “grilagem” de terras na região, também é agiota, está envolvido em homicídios, consumados e tentados, receptação de cargas roubadas e roubos a bancos.

De acordo com o delegado-geral Alberto Teixeira (na foto acima), restou provado que na fazenda de “Fernandinho” estava sendo construída uma pista clandestina que, ia ser usada para receber carregamentos de drogas, outra das atividades criminosas do mandante dos seis assassinatos.

                                               Operação “Fire”

De posse de todas as informações, e depois de reunir provas e evidências contra os acusados, a Polícia Civil requereu, e a Justiça da Comarca de Baião deferiu, cinco mandados de prisão e outros cinco de busca e apreensão contra o mandante e os executores.

As investigações comprovaram que “Fernandinho”, manteve contato contínuo com os assassinos antes, durante e depois das execuções.

“Fernandinho” foi preso em Novo Repartimento, onde reside. Os quatro elementos acusados das atrocidades contra as seis vítimas estão foragidos, mas a polícia mantém a caçada aos marginais. A Polícia Civil tem ainda 30 dias para concluir o inquérito policial e remeter os autos à Justiça estadual.

Veja a seguir outras imagens da Operação Fire. Nelas é possível ver a sede da fazenda de “Fernandinho”, o deslocamento das forças policiais, os celulares apreendidos e o local de uma das chacinas.

      

ctpbr.blogspot.com

VEJA ISSO TAMBÉM