Amazônia: Contaminação em rio deixa milhares sem água e mata 2 toneladas de animais

Moradores de Pedra Branca do Amapari, no centro oeste do Amapá, estão há mais quase duas semanas sem poderem consumir a água do rio Amapari, contaminado desde o final de novembro, e que já causou a morte de mais de duas toneladas de peixes, cobras, mamíferos e até patos criados por ribeirinhos. Desde 26 de novembro a população de pouco mais de 17 mil habitantes está bebendo água doada pelos governos da cidade e do Estado e por uma mineradora.

O motivo de toda a mortandade, até o momento não foi esclarecida, mas ribeirinhos suspeitam que tudo esteja ligado à Mina Tucano, empresa do grupo Great Panther Mining Limited, com sede em Vancouver, no Canadá, com capital aberto nas bolsas de Toronto e Nova York.

A empresa nega ter ocorrido qualquer vazamento de seus reservatórios ou que cianeto – composto químico que utiliza para extrair ouro – tenha sido o causador de qualquer dano ao Amapari, seus animais e moradores.

Enquanto o problema não é resolvido, o sistema de captação e tratamento de água, e o de esgoto do município estão parados, e o consumo de peixes foi desaconselhado pela Prefeitura da cidade.

Morador há 20 anos das margens do igarapé Xivete, afluente do rio Amapari a aproximadamente 190 km de Macapá, Raimundo Pantaleão, 86 anos, foi um dos primeiros a perceber que havia algo errado. Da sua casa, sentia um cheiro diferente e quando chegou ao igarapé viu que muitos peixes, de vários tamanhos e espécies estavam mortos.

“Foi alterando, alterando, e os peixes foram morrendo tudinho. Tudo quanto era peixe, Aracú, Cará, Piaba, Jandiá, Trairão…. Timbó não faz isso. O timbó mata no poço e pronto”, diz o morador da zona rural da cidade, que trabalha com agroextrativismo.

Timbó a que se refere é uma planta utilizada em muitas partes da Amazônia para pescar. Após amassadas, liberam uma toxina que atordoa os peixes, que podem ser pegos com as próprias mãos. Pela extensão do problema que percorreu vários quilômetros, no entanto, a hipótese de que o timbó poderia ter sido um dos causadores da mortandade de animais é pouco provável.

Caminho da morte

A reportagem do Yahoo! esteve nos lugares apontados pelos ribeirinhos como sendo os caminhos por onde a destruição passou e foi avançando. O igarapé do Areia, que tem nascente próxima à Mina Tucano, é apontado como sendo o primeiro a ser afetado na região.

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Amazônia: Contaminação em rio deixa milhares sem água e mata 2 toneladas de animais

Redação Notícias

sex., 10 de dezembro de 2021 1:26 PM·5 min de leitura

por Marco Antônio Costa e Vithória Barreto, do Amapá

 

Moradores de Pedra Branca do Amapari, no centro oeste do Amapá, estão há mais quase duas semanas sem poderem consumir a água do rio Amapari, contaminado desde o final de novembro, e que já causou a morte de mais de duas toneladas de peixes, cobras, mamíferos e até patos criados por ribeirinhos. Desde 26 de novembro a população de pouco mais de 17 mil habitantes está bebendo água doada pelos governos da cidade e do Estado e por uma mineradora.

 

O motivo de toda a mortandade, até o momento não foi esclarecida, mas ribeirinhos suspeitam que tudo esteja ligado à Mina Tucano, empresa do grupo Great Panther Mining Limited, com sede em Vancouver, no Canadá, com capital aberto nas bolsas de Toronto e Nova York.

 

A empresa nega ter ocorrido qualquer vazamento de seus reservatórios ou que cianeto – composto químico que utiliza para extrair ouro – tenha sido o causador de qualquer dano ao Amapari, seus animais e moradores.

 

Enquanto o problema não é resolvido, o sistema de captação e tratamento de água, e o de esgoto do município estão parados, e o consumo de peixes foi desaconselhado pela Prefeitura da cidade.

 

Morador há 20 anos das margens do igarapé Xivete, afluente do rio Amapari a aproximadamente 190 km de Macapá, Raimundo Pantaleão, 86 anos, foi um dos primeiros a perceber que havia algo errado. Da sua casa, sentia um cheiro diferente e quando chegou ao igarapé viu que muitos peixes, de vários tamanhos e espécies estavam mortos.

 

“Foi alterando, alterando, e os peixes foram morrendo tudinho. Tudo quanto era peixe, Aracú, Cará, Piaba, Jandiá, Trairão…. Timbó não faz isso. O timbó mata no poço e pronto”, diz o morador da zona rural da cidade, que trabalha com agroextrativismo.

 

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O timbó a que se refere é uma planta utilizada em muitas partes da Amazônia para pescar. Após amassadas, liberam uma toxina que atordoa os peixes, que podem ser pegos com as próprias mãos. Pela extensão do problema que percorreu vários quilômetros, no entanto, a hipótese de que o timbó poderia ter sido um dos causadores da mortandade de animais é pouco provável.

 

Caminho da morte

Que tem nascente próxima à Mina Tucano, é apontado como sendo o primeiro a ser afetado na região.

 

O igarapé encontra o Silvestre após correr por alguns quilômetros longe da mina, e depois o Xivete, para, após cerca de 4 Km, desembocar no Rio Amapari. Todo este caminho foi o mais afetado pela mortandade de animais, o que faz com que as hipóteses dos moradores apontem para a Mina Tucano.

 

“A lontra, se percebesse timbó na água, ia pra terra. Se fosse timbó, não mataria lontra. Isso é veneno que vem da empresa”, acusa Arnaldo Viana de Almeida, morador da comunidade do Xivete. “Eu acho que o cianeto veio da barragem deles; não estou falando que é uma verdade, mas na quinta-feira choveu, e na sexta-feira começou a morrer peixe pela tarde. O timbó não vai matar a quantidade de peixes que tem aqui, precisam fazer uma fiscalização”, conclui.

 

O incidente alterou a vida de muitas famílias. Beber água, comer e se sustentar estão sob condições impensáveis duas semanas atrás.

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Amazônia: Contaminação em rio deixa milhares sem água e mata 2 toneladas de animais

Redação Notícias

sex., 10 de dezembro de 2021 1:26 PM·5 min de leitura

por Marco Antônio Costa e Vithória Barreto, do Amapá

 

Moradores de Pedra Branca do Amapari, no centro oeste do Amapá, estão há mais quase duas semanas sem poderem consumir a água do rio Amapari, contaminado desde o final de novembro, e que já causou a morte de mais de duas toneladas de peixes, cobras, mamíferos e até patos criados por ribeirinhos. Desde 26 de novembro a população de pouco mais de 17 mil habitantes está bebendo água doada pelos governos da cidade e do Estado e por uma mineradora.

 

O motivo de toda a mortandade, até o momento não foi esclarecida, mas ribeirinhos suspeitam que tudo esteja ligado à Mina Tucano, empresa do grupo Great Panther Mining Limited, com sede em Vancouver, no Canadá, com capital aberto nas bolsas de Toronto e Nova York.

 

A empresa nega ter ocorrido qualquer vazamento de seus reservatórios ou que cianeto – composto químico que utiliza para extrair ouro – tenha sido o causador de qualquer dano ao Amapari, seus animais e moradores.

 

Enquanto o problema não é resolvido, o sistema de captação e tratamento de água, e o de esgoto do município estão parados, e o consumo de peixes foi desaconselhado pela Prefeitura da cidade.

 

Morador há 20 anos das margens do igarapé Xivete, afluente do rio Amapari a aproximadamente 190 km de Macapá, Raimundo Pantaleão, 86 anos, foi um dos primeiros a perceber que havia algo errado. Da sua casa, sentia um cheiro diferente e quando chegou ao igarapé viu que muitos peixes, de vários tamanhos e espécies estavam mortos.

 

“Foi alterando, alterando, e os peixes foram morrendo tudinho. Tudo quanto era peixe, Aracú, Cará, Piaba, Jandiá, Trairão…. Timbó não faz isso. O timbó mata no poço e pronto”, diz o morador da zona rural da cidade, que trabalha com agroextrativismo.

 

O timbó a que se refere é uma planta utilizada em muitas partes da Amazônia para pescar. Após amassadas, liberam uma toxina que atordoa os peixes, que podem ser pegos com as próprias mãos. Pela extensão do problema que percorreu vários quilômetros, no entanto, a hipótese de que o timbó poderia ter sido um dos causadores da mortandade de animais é pouco provável.

 

Caminho da morte

A reportagem do Yahoo! esteve nos lugares apontados pelos ribeirinhos como sendo os caminhos por onde a destruição passou e foi avançando. O igarapé do Areia, que tem nascente próxima à Mina Tucano, é apontado como sendo o primeiro a ser afetado na região.

 

O igarapé encontra o Silvestre após correr por alguns quilômetros longe da mina, e depois o Xivete, para, após cerca de 4 Km, desembocar no Rio Amapari. Todo este caminho foi o mais afetado pela mortandade de animais, o que faz com que a hipótese dos moradores apontem para a Mina Tucano.

 

“A lontra, se percebesse timbó na água, ia pra terra. Se fosse timbó, não mataria lontra. Isso é veneno que vem da empresa”, acusa Arnaldo Viana de Almeida, morador da comunidade do Xivete. “Eu acho que o cianeto veio da barragem deles; não estou falando que é uma verdade, mas na quinta-feira choveu, e na sexta-feira começou a morrer peixe pela tarde. O timbó não vai matar a quantidade de peixes que tem aqui, precisam fazer uma fiscalização”, conclui.

 

O incidente alterou a vida de muitas famílias. Beber água, comer e se sustentar estão sob condições impensáveis duas semanas atrás.

 

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“Vai muito a nossa vida lá, porque nós nos alimentávamos dos peixes, era básico para o nosso consumo do dia-a-dia. Todo dia a gente estava na beira do Rio”, lamenta Terezinha dos Santos, 54 anos, também moradora do Xivete.

 

Alguns dias após o começo da morte de animais dos igarapés e do Rio Amapari, ao menos uma criação de um ribeirinho, uma pequena criação de patos, morreu após consumir pequenos peixes. A morte foi quase instantânea, o que assustou ainda mais os moradores. Almeida diz ter desenvolvido micose, assim como outros moradores. Há mais de dez dias seus animais morreram e até agora não se sabe o que ocasionou tudo isso.

 

A Polícia Civil do Amapá, Secretaria de Meio Ambiente do Estado e Prefeitura de Pedra Branca do Amapari aguardam resultados de amostras da água que foram coletadas em diversos pontos dos igarapés e do rio Amapari. Um primeiro teste, feito na cidade de Santana, segunda mais populosa do Amapá, na região metropolitana de Macapá, atestou resultado negativo para cianeto. No entanto, a cidade não é banhada pelo rio Amapari, localizado a 90 km dali.

 

O secretário de meio ambiente da cidade, Raphael Araújo, diz que não descarta nenhuma possibilidade, e coloca o garimpo artesanal e a toxina da macaxeira como hipóteses que devem ser consideradas.

Tradição mineradora na Amazônia

A Mina Tucano afirma que a produção é de 0,18 gramas de ouro por tonelada de rochas e terra exploradas gera cerca de 500 empregos diretos e dois mil indiretos, tendo 90% da sua mão de obra de Pedra Branca ou Serra do Navio.

 

O centro oeste amapaense tem tradição na exploração mineral. Vizinha a Pedra Branca do Amapari, Serra do Navio foi palco do primeiro dos chamados “Grandes Projetos da Amazônia”, de onde se extraíram quantidades vultosas de manganês por quase 50 anos através da empresa Icomi.

 

A atual Mina Tucano já foi Mineração Pedra Branca do Amapari, um empreendimento do empresário Eike Batista que havia feito riqueza no Amapá décadas antes extraindo ouro em outra região, foi renomeada de Zamin, e em 2019 foi assumida pelo grupo norte-americano.

 

À empresa, perguntamos sobre o cianeto, sobre a possível ocorrência de um acidente ou vazamento e a posição do conglomerado sobre a mortandade. Através de nota da sua assessoria, a empresa confirmou utilizar o cianeto na extração do ouro de acordo com as normas exigidas pelas autoridades e disse estar apoiando a população e o município com água mineral, caminhões-pipa e seus laboratórios químicos, além de negar envolvimento no incidente.

 

Na última segunda-feira (6), ribeirinhos da região estiveram na sede do MPF (Ministério Público Federal) em Macapá para protocolar uma denúncia.

Com informações do Yahoo

 

 

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