Nefelibata

Nefelibata é a pessoa que busca se afastar da realidade, que vive nas
nuvens, não tem os pés no chão. Figuradamente, diz-se do escritor que não
cumpre regras literárias.
Creio que todas as pessoas são um pouco nefelibatas. Alguns, em
maior grau; outros, totalmente. Estacionei meu mundo nos meus sonhos por
um bom período, acordava para o mundo mas não acordava para a vida! Um
dia, os raios do sol queimaram tanto minha face, que o balde de água fria que
me foi jogado tirou-me de vez do mundo das nuvens! Senti o peso do corpo e
o tamanho da vida que insistia em mim. Meus pés, mesmo calçados, sofriam as pontadas das pedras famintas.
E doíam. O chão batido e duro da realidade não arrefecia ao castigar meu corpo, a estrada cruel
do tempo não tinha pena de espancar minha alma. O jeito foi revidar.
As mulheres não creem nos homens nefelibatas. E vice-versa. Se uma mulher de saia curta passa,
com pernas belas e grossas, na frente de alguns homens, eles olham, encaram, deliram. Outros disfarçam
e olham também. Já outros não ousam olhar, principalmente se a mulher está perto. O nefelibata
não. Os olhos dele podem estar na direção da mulher, das pernas, do corpo; mas ele não as vê, está em
outro mundo! E quem diz que a mulher acredita nisto! Elas não querem nem saber aonde anda o pensamento
do nefelibata, se os olhos estão na direção da bunda, nada impede que ela lhe bata!
Outros nefelibatas passam pelos amigos, sorrindo; os amigos o cumprimentam e não têm resposta.
Acham que foram esnobados. Ledo engano. Não foram! Os nefelibatas não os viram. O incrível
é que os sonhadores andam como pessoas normais, no entanto, uma pedra, um buraco no caminho são
suficientes para fazê-los cair na real, tropeçarem no mundo virtual.
Há pessoas que acreditam tanto que ganharão na loteria que se esquecem da vida. Já sonhei muito
com prêmios acumulados da mega sena. Inclusive, já ganhei na loteria. Não deu para ficar rico, mas
já ganhei. Vi uma reportagem sobre pessoas que ganharam várias vezes na loteria. Ficaram ricas. Sabe
qual o conselho que deram? “Jogue”! Só ganha quem joga. E há que se jogar muito, insistir em números
fixos e fazer vários jogos com números novos. Mas, para isto, há que se ter grana! Eis o problema. Dinheiro
puxa dinheiro…
É muito importante que sonhemos. Mais importante ainda é proporcionar condições para a realização
dos sonhos. Para passar no vestibular, há que se estudar; para passar num bom concurso público,
há que se matar de estudar, abrir mão dos prazeres mundanos! Para ser artista global, há que se humilhar
nas filas do Projac, passar por um série de testes e sofrimento. Ter rosto e corpo bonitos não basta!
Há pessoas inteligentes que não se dão bem no que fazem. Elas não conseguem se concentrar
nas coisas ao redor. São desatentas, têm déficit de atenção. O nefelibata, apesar de viver no mundo das
nuvens, consegue se concentrar em algumas coisas, principalmente quando gosta e quer. E, desta concentração,
produz maravilhas. É um bom escritor, ótimo ator, excelente professor. Mas tem pouca paciência,
desiste fácil de prosseguir em seu projeto. No mundo dos sonhos constrói coisas incríveis, difíceis
de serem feitas no mundo real, mas não impossíveis.
Uma coisa é alguém ter sonhos exóticos, psicodélicos, surrealistas, muito doidos; outra coisa é
ter sonhos de nefelibatas. O nefelibata sonha acordado… Eis o perigo!
Conheci um cara que era apaixonado por uma garota, colega dele. Vivia sonhando com ela. Mas
nunca teve a coragem de se aproximar e se declarar para ela. O tempo passou, ele casou-se com outra
mulher, mas nunca esquecera aquela com quem tanto sonhara. Já com filhos e uma vida estável, encontrou-
se com a antiga paixão. Conversa vai, conversa vem, criou coragem e revelou a paixão que sentira
por ela. A mulher baixou os olhos para disfarçar as lágrimas. Disse-lhe então, que fora apaixonada por
ele também, mas que tivera medo de se declarar!
Como os poetas românticos do mal do século, o nefelibata corre o risco de ficar só. Mas a ele,
bastam-lhe as nuvens dos seus sonhos, pois, quando ele se for, seus sonhos irão com ele. Já, o mortal
comum, não poderá levar consigo seus pertences, nem mesmo seu sonho, pois não pertence a ele!
Há que se viver no mundo real, posto que da realidade tiramos nosso sustento e provemos nossas
vidas. Um pouco de nuvem, de nefelibatismo no entanto, não deve nos prejudicar.
Que sejamos nefelibatas construtores de um mundo melhor, dividindo nossos sonhos e compartilhando
nossa realidade!
E você? Tem sonhado acordado ultimamente?

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