Dois meses após o rompimento da Barragem I, da Mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), é possível avaliar, com dados de quase 300 mil análises da água, solo, rejeito e sedimento, que o rio Paraopeba será recuperado. Sua recuperação ambiental depende de um conjunto de ações, entre as quais a contenção de rejeitos sólidos que estão próximos ao local onde ficava a estrutura. Junto com outras empresas e instituições, a Vale está elaborando um plano para a bacia do Paraopeba, que vem sendo discutido com órgãos ambientais. Desde o ocorrido, em 25 de janeiro, a empresa iniciou um detalhado monitoramento do rio, com coletas de amostras diárias de água, solo e avaliação dos níveis de turbidez. Atualmente, são 65 pontos de monitoramento em pontos acima do local do rompimento da B1, no córrego Ferro Carvão, nos rios Paraopeba e São Francisco, nos reservatórios das usinas de Retiro Baixo e Três Marias, além de outros oito rios tributários do Paraopeba. Foram coletadas amostras de rejeitos em 30 pontos próximos à B1 (inclusive dentro da barragem) e 12 ao longo do rio. O trabalho – que resultou nas 300 mil análises realizadas até o momento – vem sendo conduzido por quatro laboratórios especializados contratados pela Vale, envolvendo aproximadamente 250 profissionais. A Coppe-UFRJ (Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro) foi contratada para avaliar a metodologia aplicada e fazer a validação dos dados já apresentados pelos quatro laboratórios. Uma das certezas de que o rio pode ser recuperado veio dos testes de ecotoxicologia, que medem os efeitos dos elementos químicos em organismos sensíveis a alterações ambientais, presentes ao longo da bacia do Paraopeba e São Francisco, incluindo a sua foz, no Oceano Atlântico. Os técnicos não detectaram alteração aguda em nenhuma das amostras do microcrustáceo Daphnia similis. Ensaios com a bactéria Vibrio fisheri evidenciaram que as condições anteriores estão sendo mantidas após a passagem da pluma, sendo não tóxico para 97% das amostras. Já em relação às análises para medir a contaminação de peixes, os resultados demonstram ausência de toxicidade para 100% das amostras coletadas até o momento referente a esses organismos aquáticos. Outras análises em animais domésticos e culturas agrícolas que se encontram no entorno do rio e que tiveram contato com a água estão em desenvolvimento. “Lamentamos profundamente o ocorrido, mas faremos tudo o que for necessário para recuperar a bacia do rio Paraopeba, pois bem sabemos que isso é possível”, afirma Gleuza Jesué, gerente-executiva de Gestão Ambiental da Vale. Contenção dos rejeitos Um dos fatores fundamentais para acelerar a recuperação do Paraopeba é a contenção dos rejeitos. Atualmente, a Vale está em negociação com órgãos ambientais para implementar o quanto antes um plano para impedir que o material proveniente da Barragem I continue sendo carreado para o rio. O plano prevê a construção de quatro grandes estruturas – um dique, duas barreiras hidráulicas e uma cortina estaca prancha – na bacia do córrego do Ferro Carvão, afluente do Paraopeba. O objetivo é conter a massa de rejeitos remanescentes na calha do ribeirão, que recebeu a maior descarga de material proveniente da Barragem I, e, assim, reduzir o deslocamento dos sedimentos para o Paraopeba. Turbidez Os resultados das análises, realizadas até 21 de março, indicam que a pluma de turbidez está localizada no reservatório da Usina de Retiro Baixo, a cerca de 300 quilômetros de distância do local do rompimento. Os pontos a jusante desse trecho apresentam turbidez bem abaixo dos limites legais permitidos pela legislação, de 100 NTU. Os pontos de turbidez estão correlacionados também ao aumento das concentrações de ferro e manganês. Fornecimento de água A distribuição de água canalizada pelas concessionárias de água que atendem às cidades margeadas pelo rio Paraopeba e à Região Metropolitana de Belo Horizonte segue normalmente. Até o momento, a Vale distribuiu mais de 37 milhões de litros para o consumo humano, animal e para irrigação, atendendo a 19 municípios da bacia do Paraopeba. Não perigosos Histórico do Rio Paraopeba O informativo especial “Avaliação da série histórica entre 2000 e 2018”, publicado pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), em 12 de fevereiro de 2019, avaliou o comportamento de alguns parâmetros do rio Paraopeba em oito estações de monitoramento operadas pelo órgão. A série histórica mostrou que, em períodos chuvosos, a turbidez do rio chegou a ultrapassar em 18 vezes o limite legal permitido. Ao longo dos anos, os especialistas do Igam notaram aumento da presença de metais pesados – zinco, cobre, arsênio, chumbo e níquel – acima do que prevê a legislação ambiental para um rio Classe 2, cujas águas podem, segundo o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), serem destinadas à irrigação, à recreação, à pesca e ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional. Apenas as análises de mercúrio não violaram o padrão legal. Outros metais não considerados pesados (ferro, alumínio e manganês) também estavam acima do limite. O estudo do Igam permite estabelecer uma comparação da qualidade da água antes e após o rompimento da B1, da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho. |
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