As primeiras horas da manhã deste segundo domingo de outubro (11) já anunciavam a chegada de um Círio de Nazaré diferente. Com o quadrilátero da Catedral Metropolitana de Belém fechado pelos órgãos de segurança, fiéis aguardavam o início da missa em frente à Praça Dom Pedro II, no bairro da Cidade Velha, em Belém. A maioria deles cumpria promessas em agradecimento ou aguardava para ter um momento mais próximo à Imagem de Nossa Senhora de Nazaré.
“Eu sou a prova de que, no meu momento de tanto desespero, eu me ajoelhei e pedi que ela me curasse. E hoje eu estou aqui. Então, eu vou sair daqui e caminhar até a Basílica, porque a presença dela está em nossos corações. Está sendo diferente, mas nem por isso menos importante”, disse Leideane Brito, gestora de Recursos Humanos, que veio agradecer pela recuperação de uma paralisia momentânea na coluna e trouxe nas mãos duas pernas de cera para serem entregues ao final da caminhada.
Foto: Jader Paes / Ag.Para / Socorro Silva agradecia a saúde do esposo, que sofreu um infarto. “Eu disse que a minha fé era muito grande e que a minha Santinha iria ajudar. E agora ele tá bem”, contou.
De joelhos e com um terço nas mãos, Socorro Silva rezava pela vida do esposo, que há meses esteve hospitalizado em coma, vítima de um infarto, do qual conseguiu se recuperar e voltar para casa. “Eu venho aqui para agradecer e não para pedir. Todos os médicos me disseram que ele não sobreviveria, mas eu disse que a minha fé era muito grande e que a minha Santinha iria ajudar. E agora ele tá bem. Eu tenho medo, lógico, mas a minha fé é muito maior, e Nossa Senhora está sempre à frente de tudo”, complementou.
De portas fechadas, por medida de segurança em decorrência da pandemia da Covid-19, a missa iniciou às 7h em ponto, comandada pelo arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira, e com a presença da Imagem Peregrina. No local, membros da Diretoria do Círio acompanhavam a programação, que foi transmitida ao vivo pela TV Cultura.
“Quando a pandemia mostrou que não seria aquilo que pensamos inicialmente, compreendemos que precisávamos ter um plano B. De alguma maneira, tentamos preencher o vazio que a falta das ruas tem feito a cada um de nós. É inegável que temos saudades. Hoje, esse espaço estaria lotado, mas é uma questão de cuidado com as pessoas. Partimos para uma programação intensa, pelas redes sociais e televisão, para tentar levar ao devoto um pouquinho de participação” – Albano Martins, coordenador da Diretoria da Festa de Nazaré.
Foto: Jader Paes / Ag.Para / “Vivemos um Círio diferente, mas ainda Círio”, afirmou Taveira.
Durante a homilia, Dom Alberto lembrou que o Círio está em cada um dos fiéis, pedindo um momento de oração e de silêncio aos devotos que acompanhavam de casa a celebração. “Vivemos um Círio diferente, mas ainda Círio. Viemos aqui para proclamar que a nossa fé não tem distâncias. Hoje, todo o povo de Deus está reunido. Que esse sentimento esteja gravado em oração, no coração de todos nós”, complementou.
Após o encerramento da missa, por volta das 8h, Dom Alberto surpreendeu a todos e levou a Imagem de Nossa Senhora para abençoar a população que aguardava na parte de fora da igreja. Em cima do carro oficial do Círio, a Imagem circulou próximo aos fiéis e foi ovacionada, em um momento de muita emoção.
“Isso era o sonho de todo mundo. Assim que cheguei, senti que essa multidão gritava por alguma coisa a mais. Estava fora do programa, mas vimos que foi pacífico. Aqui, o povo faz o Círio e nos sentimos na liberdade de dar essa alegria ao povo. Tenho certeza que toda caminhada que será feita pelas ruas, será de forma pacífica e piedosa” – arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira.
Foto: Jader Paes / Ag.Para / Dom Alberto quebrou o protocolo e surpreendeu a todos, levando a Imagem de Nossa Senhora para abençoar os fiéis que aguardavam na parte de fora da igreja.
Há pelo menos duas décadas que a missa do Círio é celebrada fora da Igreja, aberta ao público, em formato campal. Mas, este não é o primeiro ano em que a programação é realizada longe das ruas ou sofre alterações. O mesmo aconteceu em 1835, quando as festividades foram suspensas em decorrência da Revolução Cabana. Anos mais tarde, em 1918, desta vez pela pandemia da Gripe Espanhola, a programação foi adiada, ocorrendo no último domingo de outubro.
“Única coisa que espero é que, ano que vem, estejamos aqui, celebrando a Santa Missa na frente da igreja, da forma costumeira. Cada ano melhor, porque o Círio é sempre melhor. Tenho certeza que o Círio deste ano, também marcado por muita dor e esperança, vai produzir muitos frutos na vida do nosso povo. Não é um Círio pior, é original e diferente. Cada coração é uma berlinda, cada um de nós construímos o Círio”, disse Taveira.
Foto: Jader Paes / Ag.Para / Desde cedo, devotos estiveram do lado de fora da Catedral, para pagar suas promessas e agradecer graças alcançadas.
Acompanhada da filha Maria de Nazaré, de 2 anos, a assessora de saúde, Denise Vale, veio agradecer por ter se recuperado da Covid-19 e pela vida dos familiares, que também conseguiram se curar da doença. “Eu sempre fui devota de Nossa Senhora, não é coincidência que coloquei o nome Dela na minha filha. Vim aqui agradecer, após perder alguns amigos para o coronavírus. Minha família se recuperou e minha filha não apresentou sintomas. Então, eu tenho muito a agradecer”, finalizou Denise.
A programação seguiu, após a celebração, com o Terço Mariano, também transmitido pela TV.
Fonte: agenciapara.com.br