A média da capital paraense (8,3) é quatro vezes maior que a média nacional (1,9)
Com o risco de contágio pela pandemia da covid-19, além do colapso presenciado no sistema de saúde pública e privada em vários momentos desde 2020, as secretarias estaduais de saúde precisaram suspender ou flexibilizar diversos procedimentos temporariamente. Essas mudanças provocaram aumento nos casos de subnotificação de diversas doenças, assim como desacelerou o início dos tratamentos. De acordo com o último Boletim Epidemiológico de HIV/Aids, publicado pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS), o Pará registrou aumento em todos os registros de HIV/Aids no último ano. A capital Belém registra um marcador histórico preocupante: o de líder nacional na detecção de casos de HIV/Aids em crianças menores de 5 anos, com uma média de notificações quatro vezes maior que a média nacional.
A Secretaria de Saúde Pública do Pará (Sespa) e a Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma), afirmam que o caso de crianças nascidas com o HIV ou diagnosticadas ainda na infância pode ser agravado com a falta de acompanhamento médico na fase do pré-natal e nos primeiros anos de vida, feitos de forma gratuita nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) onde o resultado fica pronto em 20 minutos “Tanto para o bebê quanto a gestante é possível fazer o acompanhamento de forma rápida e eficiente, mas é necessário que seja pelo menos iniciado o acompanhamento, que pode ser feito comparecendo presencialmente as unidades de saúde ou por agendamento feito pelo telefone, pois quanto mais rápido for feito o diagnóstico, maiores as chances de controle”.
Transmissão vertical
Quando a criança é infectada durante o período de gestação, no momento do parto ou ainda durante a amamentação é configurada a transmissão vertical do HIV, transmitida de mãe para filho. Nessas fases, o contato com fluidos contaminados, tanto no líquido amniótico quanto no leite materno, pode levar a criança a desenvolver a doença antes mesmo dos primeiros anos de vida.
Segundo o Ministério da Saúde, o momento do trabalho do parto é o mais propício a infectar o bebê, uma vez que é responsável por cerca de 65% dos casos. A infecção intrauterina, que ocorre ainda no período gestacional aparece com 35% dos casos, 5% a mais que a transmissão por meio da amamentação, que corresponde a 30% dos casos quando a mãe é infectada durante o período de aleitamento.
Rejuvenescimento
Outro destaque em que o Pará segue as estimativas nacionais é no crescimento de diagnósticos em pessoas na faixa etária de 15 até 29 anos. Sobre a capital paraense, a Sesma explica que esse aumento aconteceu principalmente no público masculino “Entre os homens, nos últimos dez anos, observou-se um aumento da taxa de detecção de Aids nas faixas de 15 a 19 anos, de 20 a 24 anos, de 25 e 29 anos”.
Já em nível estadual, a Sespa informa que a faixa etária onde houve mais crescimento de novos casos foi entre 20 a 49 anos, com 2280 diagnósticos entre 2020 e 2021. No mesmo período, os diagnósticos foram provocados por interações sexuais entre o público heterossexual, responsável por 1447 diagnósticos entre 2020 e 2021.
Em nota, a Sespa explica a sequência de acontecimentos que revela a realidade do levantamento “Ainda há resistência em alguns públicos não apenas em fazer os testes como também em fazê-los na frequência adequada, o que dificulta não só a prevenção como os cuidados pós exposição”.
HIV e Aids
O HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) é o vírus causador da Aids, que ataca células específicas do sistema imunológico. Ao contrário de outros vírus, como o da gripe, o corpo humano não consegue se livrar do HIV.
A Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é a doença causada pelo HIV, que ataca células do sistema imunológico, responsáveis por defender o organismo de doenças. Em um estágio avançado da infecção pelo HIV, a pessoa pode apresentar diversos sinais e sintomas, além de infecções que se aproveitam do sistema imunológico mais frágil como pneumonias, infecções fúngicas e parasitárias assim como alguns tipos de câncer. Sem o tratamento antirretroviral, o HIV incapacita o organismo de lutar contra infecções e doenças.
Investigação e prevenção
Para cuidar melhor da saúde relacionada a vida sexual, é importante fazer um levantamento individual sobre os últimos acontecimentos e sempre estar atento aos sinais do corpo. Em casos de exposição, é necessária a realização de testes de HIV/Aids, sífilis, além das hepatites B e C, que podem ser feitas na modalidade de testes rápidos ou laboratoriais.
Os testes rápidos são realizados a partir de uma amostra de saliva ou gota de sangue. O resultado sai em até 30 minutos.
Já os testes laboratoriais demoram alguns dias e são indicados para uma investigação mais completa. Eles costumam ser feitos com amostras de sangue e urina, mas também podem ser realizados com coletas de materiais das secreções ou lesões.
A Sesma destaca que existe dificuldade em garantir que 100% de notificação de casos estejam notificadas de forma oficial, assim como “Com a pandemia observou-se que as notificações diminuíram, o que não é garantia de que ocorram menos casos”. Desta forma, as recomendações gerais para prevenção permanecem as mesmas “Redobrem os cuidados relativos à sua saúde sexual e reprodutiva, e sempre que necessário, realize testagem para HIV, sífilis e hepatites B e C. Os testes são rápidos, seguros, gratuitos e disponíveis nas unidades básicas de saúde (incluindo Estratégias de Saúde da Família) e no Centro de Testagem e Aconselhamento – CTA”.
A secretaria reforça que no caso de grávidas e puérperas, fazer o acompanhamento em um posto de saúde não auxilia apenas na investigação e tratamento relacionados ao HIV/Aids, mas também em relação a outras necessidades “É necessário estar atento a saúde geral da criança e fazer a vacinação geral e acompanhamento nutricional no período adequado, nas consultas as mães e pais recebem orientações que podem garantir o desenvolvimento adequado no aspecto físico e mental dessa criança” explica.